A classe trabalhadora pode ser a principal vítima da sobretaxa de 50% imposta pelo governo Donaldo Trump às exportações de produtos brasileiros aos Estados Unidos. Se o tarifaço não for revertido, suspenso ou atenuado, 726.701 empregos diretos no País estarão em risco num período de um ano.
A projeção, feita pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), foi divulgada nesta quarta-feira (13), em live promovida pelo Fórum das Centrais Sindicais. A transmissão ocorreu pouco antes da cerimônia em que o governo Lula anunciou o Plano Brasil Soberano – um pacote de medidas para “mitigar os impactos econômicos” do tarifaço.
Segundo o Dieese, os setores mais prejudicados são Serviços (com 241.482 postos de trabalho sob ameaça), Indústria de Transformação (215.184) e Comércio (142.372). Mesmo antes de 6 de agosto – data em que a taxação de 50% entrou em vigor –, alguns segmentos efetivaram as primeiras demissões.
Com menos produção e mais incertezas, as empresas atingidas vão endurecer as campanhas salariais. Categorias com data-base no segundo semestre estão mais sujeitas a condições adversas na mesa de negociação. Num conjunto de 3.075 empresas exportadoras mapeadas pelo Diesse, mais da metade – 1.574 – tem data-base entre setembro e outubro.
Ações do governo
Em vídeo gravado para a live, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, tentou minimizar a crise. De acordo com ele, de 2003 a 2025, o peso dos EUA para as exportações brasileiras caiu de 25% para 12%. “Nós não devemos nos desesperar com esse ocorrido”, afirmou Marinho, em referência ao “tarifaço do senhor Trump”.
Atendendo a uma reivindicação do movimento sindical, o Plano Brasil Soberano cobra das empresas beneficiadas uma série de contrapartidas em proteção aos trabalhadores. Para fiscalizar o cumprimento dessas contrapartidas, será criada a Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego.
Com o plano, o governo também estimula a negociação de acordos coletivos específicos e temporários. Além de preservar empregos, as empresas não poderão mexer nas folhas de pagamento ou adotar lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) sem consulta prévia aos sindicatos.
“Estude a realidade de cada empresa, de cada setor, para caprichar na negociação coletiva, na manutenção do emprego. Veja que esse episódio do Trump nos coloca a obrigação de estar mais atentos para termos efetivamente o quadro de cada empresa e não comprar gato por lebre”, alertou Marinho. “Pode ter muita empresa que busque aproveitar de forma oportunista esse momento para evitar dar o aumento real de salário ou negociar de forma rebaixada.”
Centrais
Participaram da live representantes das oito entidades que integram o Fórum das Centrais (CSB, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical, NCST, UGT e Pública). Os sindicalistas manifestaram apoio ao esforço do governo Lula.
“O governo, corretamente, deve construir um conjunto de políticas pública que possam mitigar esse processo do tarifaço”, disse Ronaldo Leite, secretário-geral da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). Para o dirigente, porém, é preciso “resistir sem abrir mão da soberania nacional” e sem prejudicar os trabalhadores.
Leite elogiou a exigência de manutenção de empregos nas empresas que recorrerem ao Plano Brasil Soberano. “Mais do que simplesmente manter a roda da economia funcionando – o que é muito importante –, necessitamos garantir as condições mínimas para a classe trabalhadora, sem perda de emprego. Não podemos permitir que esse momento de dificuldade seja o momento de jogar a conta para os trabalhadores.”
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, propôs que as exportadoras afetadas abram uma “mesa de negociação célere”, com duração de, no máximo, dez dias. O sindicalista denunciou empresas que, antevendo os critérios do Plano Brasil Soberano, fizeram cortes antecipados. “Que tenha uma retroatividade. Para entrar no programa, têm de ser empresas que não demitiram nos últimos três meses.”

André Cintra
Jornalista, é assessor de Comunicação da Fitmetal